Passa o Rock in Rio pra cá, isso é um assalto!
Por Luck Veloso - O ano era
1991 e eu caminhava pela Rua Barão de Itapagipe, na Tijuca, zona norte do Rio
de Janeiro, feliz da vida com meu convite para o que viria a ser o maior
festival de música do planeta. Na mochila, um lanche, o convite e no pulso, um
relógio emprestado do meu padrasto. Dois moleques atravessaram rápido em minha
direção. Foi tudo muito rápido. Arma em punho, gritaram: “passa a mochila e
o relógio! ”. Gelei. Entreguei rapidamente minha mochila surrada e tirei às
pressas o Casio digital que pusera para ´tirar onda´.
Era o início
dos anos 1990 e naquele 26 de janeiro eu sonhava assistir de perto aos shows
do Happy Mondays, Paulo Ricardo, A-ha, Debbie Gibson, Information Society
(então no auge), Capital Inicial e Nenhum de Nós, no Estádio Mário Filho, o Maracanã. Sim, um tanto pop para um
cara com 19 anos que crescera ouvindo Iron Maiden e Led Zeppelin, mas o lado DJ
naquela época estava falando bem mais alto que o roqueiro. Culpa do DJ Memê. Mas essa é outra história...
Ainda
atônito, ali, parado no meio da rua, voltei para a casa de uma amiga que iria comigo e falei para mim mesmo (e a ela também, para impressionar), “vou lá
no morro recuperar os ingressos”. E continuei, com tom de filme de ação: “se
eu não voltar em meia hora, avisem à polícia”. E fui. Loucamente, fui.
Os garotos
nervosos com a arma na mão haviam subido o Morro do Turano, ali entre a Barão de Itapagipe e a Rua do Bispo, talvez o lado mais ´nervoso´da bela e
confusa Tijuca. Comecei a subir o morro, coração saltando pela boca, olhos
hesitantes e mente fervilhando. Parei algumas pessoas e perguntei pelo nome de
um dos moleques que havia me assaltado, ainda lembro bem, ´Marquinhos´. O
comparsa havia dito o nome dele. Me indicaram a casa e lá fui.
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Bati à porta
como quem tem um mandado de prisão. Precisava demais daqueles dois ingressos. O
pão com manteiga? Poderia ficar. O relógio idem, mas os ingressos... ah os
ingressos. Era o meu primeiro Rock in Rio! Perdera o de 1985. A senhora que
abiu a porta dissera ser tia do moleque e alegou que ele havia ido para Niterói.
Contei toda a história para ela e implorei pelos ingressos. Falei que ficaria
lá embaixo do morro, na entrada, em frente à rua, esperando.
Minha
coragem e cara de pau deram certo. Em 15 minutos, juntou um grupinho na entrada
do morro a me olhar e do meio deles, veio um garoto com a minha mochila nas
mãos. Me entregou calado e se foi. Olhei para o grupo e fiz um “legal” com as
mãos, agradecendo. Me afastei. Quando consegui olhar, dentro estavam os dois
ingressos e o meu lanche, mas o relógio jamais vi. Tudo bem, pensei. Pelo
menos, não perderia o Rock in Rio, que em sua segunda edição, caminhava para se
tornar o que é hoje, o maior festival de música da Terra. E naquele ano, o termo
“Guns and Roses” (Armas e rosas) ganhou para mim, um novo significado. Vida
longa ao Rock in Rio!
Passa o Rock in Rio pra cá, isso é um assalto!
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