DJ Rodrigo Ardilha conta como saiu do Brasil para ganhar as pistas do mundo
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Rodrigo Ardilha em ação - Warm up para Alan Walker / divulgação |
LV - Ardilha, o que o levou a escolher a Europa para viver e dedicar seus estudos musicais e consequentemente, sua carreira como DJ?
Comecei a tocar fora do Brasil em 2009 e passei por muitos países da América do Sul e Norte. Somente no fim de 2010 eu comecei a tocar pela Europa e percebi que muitas cidades europeias eram minha vibe de vida. Uma galera que sabe dosar bem entre o trabalho e o lazer, os serviços como transporte publico funcionam e a segurança é bem grande. Com um custo de vida bem mais baixo que no Brasil eu pude voltar meus esforços somente para a música e isso fez toda a diferença. Hoje moro na República Tcheca , país que me sinto bem desde a primeira vez que toquei.
LV - Você saiu do Brasil há dois anos (2015) para apostar em novas pistas, novos públicos e novas experiências. Como tem sido essa vivência?
Vou ser completamente sincero. Pra mim festa é festa, não importa se é na Suécia ou na Paraíba, quando as pessoas que estão no club ou evento estão dispostas a somente se divertir é tudo igual. Essa é a mágica da música, ela é universal. Eu toco algumas músicas com vocais brasileiros e dentre elas eu sempre toco remixes da música "Oração" e onde quer que seja a galera se diverte. A experiência maior é de saber ler pessoas que não são tão abertas como os brasileiros, é perceber que eles curtem em uma vibração diferente, que se divertem como se não houvesse amanhã.
LV - Fazendo um comparativo entre as épocas, o que você acha que mudou no cenário da música eletrônica mundial?
Olha , eu comecei a tocar em 1994. Antigamente ter acesso às músicas e novidades era um desafio incrível. Lembro da época que tinha que ir a lojas de disco e passar horas ouvindo os LPs para decidir o que levar pra casa, afinal o custo era bem alto, ser DJ necessitava um grande e constante investimento. Além de ser bem mais complicado a parte da mixagem, pois lidar com o vinil era muito mais complicado do que CDs / PenDrives, o DJ era visto como marginal e viciado. Hoje o investimento de tempo que se faz para ser DJ é muito menor , o acesso as músicas é ridiculamente fácil, operar os aparelhos também e todos acham cool ser DJ. Com isso aconteceu uma enxurrada de "DJs" no mercado, o que faz que a qualidade caia vertiginosamente e o valor dos cachês também. A principal mudança é que antes os DJs eram os responsáveis por ditar o que tocava na pista , atualmente é a pista que dita o que o DJ pode tocar pois se ele ousar tocar algo fora do habitual ele vai perdendo seu espaço gradativamente.
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Rodrigo Ardilha - Praha - Sasazu / Divulgação |
LV - Você tem feito incursões pelo mundo da produção através de Colabs com nomes como Felipe Assad e Luca Buzanelli. Fale um pouco dessa experiencia?
Como produtor eu tenho experiências variadas. Gosto do formato de colaboração pois posso explorar melhor ideias e ter um feedback imediato, fora que não sou um cara de ficar trancado sozinho em estúdio feito um eremita. Trabalhar com caras como esses , mesmo que estejam do outro lado do mundo, é muito fácil pois temos vibes e ideias parecidas. Felipe além de ser meu parceiro de produção é meu sócio na TAPE Agenciamento Artístico, empresa que criei em 2012 para atender a uma demanda de mercado, e acima de tudo meu amigo há quase uma década. Já o Luca é o tipo de amigo fantasma, as vezes passamos meses sem nos falar mas o carinho e admiração permanecem intactos. Ele é um cara muito talentoso no que faz e a track que estamos trabalhando no momento será lançada em uma compilação para o selo do Café del Mar.
LV - Qual é a principal diferença entre o público europeu e o brasileiro?
Nos últimos anos as festas do Brasil passaram a ser um desfile, onde as pessoas vão para ver e ser vistas. A música fica em segundo plano e em muitas das festas a maior atração é o open bar ou a entrada de graça. Não é mais o DJ ou a música. Na Europa , Oriente Médio e Ásia as pessoas ainda saem de casa para ver o DJ, elas se importam em procurar saber mais sobre o cara que está tocando, pesquisam no YouTube, Soundcloud ou Mixcloud para ouvir o que o a atração proposta faz e caso não gostem eles simplesmente não vão. Aqui é habitual ver meninas de tênis ou sandálias rasteiras, sem super produção, pois elas vão pra festa pra se divertir, dançar até o sol raiar, beber (porque elas bebem muito por aqui) e não ficar tirando selfies com caras e bocas. A cultura musical aqui é bem diferente e dificilmente você encontra uma noite que quer agradar a todos como acontece no Brasil. Tem lugares no Rio que tocam sertanejo, funk, música eletrônica e pagode na mesma noite. Eu não vejo como esses públicos podem se misturar. Aqui se você vai a um club de techno, você vai ouvir techno a noite toda, se você quer escutar música latina você vai pra outro lugar. Se você quer escutar black music você vai pra outro lugar. Cada um no seu quadrado.
LV - Que conselho você daria agora para o DJ que pensa em se aventurar morando e vivendo de música em outros países?
Olha Luck, eu e você somos provas que podemos conquistar o mundo, literalmente. Pensando nisso eu criei uma web-série chamada "On The Road" - - para inspirar DJs, músicos e outras profissões ligadas a arte a se aventurar. Morar fora do Brasil não é passar férias, as dificuldades existem (e não são poucas) mas a experiência é enriquecedora. Fora que se não der certo você pode voltar ao Brasil e continuar sua vida e com muita bagagem e experiências pra contar. Como falei antes a beleza da música é que ela é universal. Uma coisa é fundamental você falar inglês bem. Não precisa ser perfeito, mas algo que você consiga se comunicar em um nível decente. Sugiro que as pessoas pesquisem bem a cidade que pretende morar. Veja nível de qualidade de vida, oportunidades de emprego caso não consiga se manter de música no início dessa nova jornada e tenha uma reserva de dinheiro mínima para se manter (isso como um plano C). Lembre-se: você não é árvore para ter raiz, então saia e explore o mundo. A atual situação do Brasil é péssima e não vejo melhoras a curto / médio prazo, saia enquanto é tempo. Se posso sugerir umas cidades: Braga (Portugal), Dublin (Irlanda), Montevidéu (Uruguai), Salzburgo (Austria), Zagrebe (Croácia) , Montreal (Canadá).
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Não tem como eleger somente uma pois tem várias noites especiais pra mim inclusive no Brasil. Então vou abusar e falar algumas que não saem da minha memória. A primeira vez que toquei no club The Week no Rio na festa StereoSounds foi inacreditavelmente mágica pois foi tudo muito acima da expectativa. A primeira vez que toquei no club Privilege Búzios a convite do então gerente Rafael Barino (que hoje tem seu próprio bar em Juiz de Fora) foi inimaginável pois fiz um set de mais de 3 horas (quando era previsto somente 1,5h) e me abriu as portas para o mundo Privilege, onde me apresentei várias vezes depois. Mais recentemente tem dois dias especiais, ano passado na cidade de Zrce na Croácia onde toquei em uma incrível boat party durante o spring break. Infelizmente eu tive um problema na minha câmera e perdi a gravação desse show mas é fácil dizer que foi uma das melhores tardes que já tive na vida. Outro dia especial foi na Bratislava capital da Eslováquia esse ano onde fiz o warm up para o Norueguês Alan Walker. Tinha mais de 3500 pessoas na pista e pude fazer um som que gosto demais e finalizei o show tocando nada mais nada menos que "Sky and Sand" do alemão Paul Kalkbrenner com todos aplaudindo efusivamente. Foi bem emocionante estar tão longe de casa e receber tamanho carinho.
LV - Na sua opinião, o que pode e o que nunca pode ser feito pelo público em uma pista de dança?
O que pode ser feito é se divertir! Muito! Ser gentil com quem estiver a sua volta e irradiar alegria. O que não pode ser feito é se intrometer no trabalho dos outros. Você não vai a um restaurante e invadir a cozinha pra dizer ao chef que ingredientes usar ou a forma que deve cozinhar, certo? Você simplesmente senta-se à mesa e espera a sua refeição, que você pode gostar ou não mas nunca se intromete no seu método de trabalho. O que não pode ser feito é estar tão fora de si por álcool ou drogas que começa a ser inconveniente com todos a sua volta estragando a diversão de outras pessoas colocando os outros e a si mesmo em risco.
LV - Por fim, deixe um recado para quem pensa em empreender, assim como você, vivendo de música em tempo integral:
Baby steps. Apenas isso que posso dizer. Empreender é uma tarefa difícil porque você não sabe o dia de amanhã, mas vá em pequenos passos que você chega lá. Não existe sucesso sem trabalho duro. Ser DJ é trabalho em tempo integral e precisa de dedicação, perseverança e flexibilidade. Nunca tente enganar ninguém para subir na vida, seja você mesmo e tenha suas pequenas conquistas. Todas as pequenas conquistas juntas formarão a grande. Toda escalada se inicia na base da montanha.
DJ Rodrigo Ardilha conta como saiu do Brasil para ganhar as pistas do mundo
Reviewed by luckveloso
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