Festa Junina - Músicas antigas e atuais, um comparativo da mutação

Sanfona / foto de divulgação
Sempre adorei festas juninas, principalmente as de rua. Ainda me lembro muito bem de quando tinha uns oito anos e tive a barriga inteira queimada por água fervendo, na teimosia de querer fazer um café sozinho. Criança quer fazer tudo, pois tudo é novidade. Na época, já era viciado em festa junina e ainda que pequeno, sempre ficava com o papel de ´noivo´. 

Mesmo com a barriga cheia de bolhas devido à queimadura, me dispus a dançar e minha mãe, com um talento único, sempre confeccionava as minhas roupas. Não havia jeito de eu ficar de fora de uma ´festa caipira´. Além das comidas típicas, que não víamos com frequência nas outras épocas do ano, havia ainda as músicas... ah as músicas... quantas melodias bonitas, desde as que continham letras de duplo sentido às instrumentais. Eu adorava, aquele ritmo já fazia parte do meu imaginário infantojuvenil.

Sempre que me disponho a escrever sobre o passado, tento evitar comparações, ainda mais quando sei que muitas pessoas que estão lendo este texto, não sei se é o seu caso, não viveram os anos em que vivi. É difícil não soar saudosista, eu sei. Acontece com todo mundo que atravessa épocas e do alto dos meus 45 anos recém completados, já presenciei algumas. Atentando para o lado musical, que é o que mais me toca, faço aqui uma analogia sem qualquer pretensão.

Fogueira / foto de divulgação

Usando a temida frase ´na minha época´, ouso relatar que fica impossível para mim não querer traçar um comparativo entre as músicas tocadas nas festas juninas antigas e nas festas juninas atuais, sempre me referindo à festa de rua, as mais populares. Se nos anos 1980 os temas recorrentes eram ´matrimônio´, ´paqueras´ (ou xaveco, dependendo de sua região) e ´pular fogueira´, fazendo com que as crianças que éramos passássemos a imaginar, de forma ainda inocente, as situações inerentes aos temas, o que ocorre atualmente é algo bem mais direto e por vezes grosseiro, com frases como "Bate com a bunda no calcanhar", ou ainda " Tô Apaixonado nessa mina", onde o emergente MC Kevinho dispara: "Tô apaixonado nessa mina e quando ela empina geral quer se envolver", contando com impressionantes e constrangedores DEZ MILHÕES de acessos no Youtube em apenas DOIS DIAS de lançamento do vídeo!

Nosso bom e velho Luiz Gonzaga, o Gonzagão, certamente iria revirar em sua última morada se por um acaso, pudesse ouvir os sons que substituíram as letras inocentes e os belos acordes de sua Sanfona Sentida. O que antes apenas remetia de longe às situações do cotidiano, como nas belas músicas "Festa na Roça", "O Sanfoneiro Tocava", "Marcando a Quadrilha", "João, Pedro e Antônio", "Pula a Fogueira" e tantos outros clássicos, foram substituídos ao longo dos anos por "Despacito", "Vidinha de Balada", "Acordando o Prédio", "Mordida, Beijo e Tapa" ou ainda a ´pérola´ "Amante não tem lar". Confesso que ainda me espanto em ler tais canções como as músicas mais tocadas de 2017.

Para finalizar o texto, antes que eu cometa o erro de parecer rabugento, proponho que você que gosta de música tanto quanto eu, pratique a ideia de colocar mais qualidade em sua vida através de suas playlists. O respeito aos demais ritmos sempre existirá, afinal, o que seria do branco se não houvesse o preto? Porém, penso que com um bom senso, estaríamos em situação musical bem melhor que a atual. Parodiando a nossa Rainha do Rock Rita Lee, repito seus versos: " ai, ai meu Deus, o que foi que aconteceu, com a música popular brasileira?" - Viva Santo Antônio e São João!

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