ISTAMBUL - Que paixão é esse lugar...

Istambul - 17 de outubro - 2010
Estamos chegando na rota final desta temporada na Europa. Completei cinco meses embarcado trabalhando como DJ e responsável pelos backstages dos shows no teatro. Conheci tanta gente e tantos lugares diferentes que parece que foi muito mais tempo. Acabo de deixar o porto de Istambul e como de costume, corri para a proa (parte da frente) do navio na área reservada aos tripulantes, onde não pode entrar nenhum turista e fica sempre vazia. Adoro ficar fazendo fotos ali, admirando a cidade que acabei de deixar. No caso de hoje, senti uma enorme saudade antecipada.

Não estava deixando apenas uma cidade… Estava deixando Istambul, que me arrebatou completamente, ou seja, era como abandonar uma paixão, um amor, tudo junto. Em Istambul me senti completamente vivo e vibrante, como se fizesse parte de tudo aquilo em algum momento da história. Na verdade, agora faço. Estive por vários daqueles becos históricos, ruas com iluminação indireta, fiquei de boca aberta quando, ao subir pelos caminhos íngremes e estreitos que levam a Taksin, dei da cara com a imponente Galata, a torre mais bonita de Istambul na minha opinião. Poder sentar nos restaurantes que cercam a agitada Taksin e simplesmente comer um Eckebe é simplesmente uma experiência única. O Eckebe é um tipo de sopa feita de tripas de vaca, com um forte tempero e pode ser acompanhada por um molho picante. Esquenta bastante e nada melhor para a noite fria de Istambul. Entre as varias saídas que dei pela cidade nestas quatro visitas com três dias de duração, creio que esta última tenha sido uma das melhores.

Havia guardado o nome de uma loja de roupas que vende camisetas super diferentes para esta visita, queria comprar pelo menos duas, que saem a 30 Liras Turcas cada uma (aproximadamente 15 Euros). Achei uma perfeita, que representa a última ceia, sendo que Jesus esta com um headphone e mixando com dois toca discos com a frase "The Last Party". Perfeita não? Comprei ainda umas outras camisetas mais baratas, com imagens e frases de Istambul e rumei com alguns amigos do navio para andar por Taksin. Simplesmente zanzar por esta rua principal de Istambul já é uma programação devido a tanta mistura que presenciamos. De repente demos de cara com uma gravação, não sei o que era mas havia duas pessoas fantasiadas de Bob Esponja e dois atores que segundo me informei, eram bastante conhecidos na Turquia. Deviam ser pois a gravação atraiu uma pequena multidão. Fiquei ali observando aquilo e fotografando tudo achando incrível. Rumamos novamente por Taksin para comer algo e sentamos em um típico restaurante turco, que serve grandes sanduíches com queijo, carne e alguns legumes. Logo após o breve pit stop, continuamos a caminhar quando uma musica me chamou atenção vinda de um beco. Fui conferir e não consegui mais sair de la. Chamei o povo que estava me acompanhando e entramos no apertado mas aconchegante bar, onde havia uma dupla cantando típicas musicas turcas e um publico diferente e animadíssimo.

Éramos um pequeno grupo formado por quatro pessoas. Eu, o bailarino Rodney, também do Rio de Janeiro e palhaço por natureza, o cantor Juanma da Espanha e o bailarino Edward, da Inglaterra. Edward era o mais quieto do grupo. Logo não conseguíamos nos segurar com vontade de dançar aquela musica envolvente. Fiquei instigando os bailarinos e o cantor a falarem com a dupla para poderem fazer algo, dançar, cantar, não sei o que. Conseguimos falar com a simpática cantora turca em inglês, chamada Pervin Pak e logo ela anunciou nosso grupo. A risada foi geral quando Rodney e Juanma foram para o centro da festa e iniciaram a simular danças turcas. Rodney deu um salto mortal no meio do salão, recebendo aplausos de todos. Fiquei ali registrando tudo com a câmera (perdi o salto mortal mas o registrei em Taksin) e depois falei com a cantora, queria muito pegar musicas com eles mas acabou não dando, faremos isso depois on line. No final do corredor musical havia uma boite, onde ficava também o banheiro. Fui liberar um pouco da cerveja que havia consumido e aproveitei para dançar por cinco minutos dentro da boite. Isso tudo era na parte da tarde de um domingo em Istambul, ou seja, na parte em que tocava a musica eletrônica, havia muito mais adolescentes, parecia uma matinê, sendo que não havia DJ ainda, somente uma seqüência mixada com house turco rolando no som. Voltei para a mesa em que estávamos e ficamos ali por algumas horas, absorvendo aquele som tão diferente da cultura brasileira e tão envolvente. Tinha que voltar ao navio para cuidar do show do humorista espanhol Joan Domingues e ainda iniciar a noite na disco do navio, mas não pretendia ficar lá por muito tempo… precisava voltar correndo para aproveitar ao máximo as ruas de Istambul.
Após trabalhar no show de Joan Domingues, que apresenta um interessante stand up comedy mesclando elementos do dia-a-dia com assuntos políticos e algo escatológico, o qual o publico espanhol gosta bastante dando várias risadas, rumei para a disco. Teria que pelo menos iniciar a noite, embora sempre nas noites de embarque não haja quase passageiros. Quando vi que não viria ninguém, preparei uma seqüência boa de músicas e rumei novamente para a rua com o técnico de som Paul, da Romenia. O cara saca bastante de gastronomia e rumamos direto para Taksin para comer Eckebe. Fiquei fissurado na sopa. Logo em seguida, encontramos mais um pequeno grupo do navio e ficamos em um bar com musica ao vivo, tipicamente turca. É uma difícil tarefa ter que ir embora no meio da madrugada estando em Istambul. A cidade não para e parece que você esta dentro de uma historia, quando em alguns minutos finaliza uma situação, aparece outra e assim subseqüentemente. Como já era um tanto tarde, teria que voltar ao navio mas Paul ainda queria ficar mais. Rumei com os demais amigos para o navio a bordo de um taxi pois no dia seguinte, com certeza estaria nas ruas de Istambul novamente.
Segundo dia em Istambul e o último da temporada - que triste!
18 de outubro - Istambul

Combinei com o técnico de som Daniel (foto acima), outro brother romeno para sairmos no segundo dia em Istambul. Dani (como o chamamos no navio) é aquele tipo de cara que trabalha quase 24 horas. Simplesmente não consegue ficar parado, um verdadeiro workaholic, o que o deixa muito mais atarefado que os demais técnicos. Isso me preocupava um pouco porque, embora eu também tivesse hora para voltar ao navio, não gostava de me sentir pressionado a ter que voltar antes da minha hora por estar com alguém. Não é egoísmo, simplesmente precisava curtir muito mais aquela incrível cidade. Fizemos uma parada em um café para utilizarmos a internet. Combinamos que deveria ser rápida para não perdermos muito tempo pois Dani queria voltar ao barco as 19h e eram 14h. O terrível da internet é que por mais que você tente ao contrário, sempre fica mais tempo do que deveria. Saímos do café às 16h apressados, pois ainda teríamos que trocar Euro por Lira Turca se quiséssemos comprar alguma coisa. Entramos na casa de câmbio, que na verdade é a famosa seguradora Axa (que aqui se chama Axa Sigorta) e a mulher do caixa achou meu nome engraçado e diferente. Não lembro o nome dela mas brinquei na hora pois li no balcão e é algo impronunciável. Que interessante a diferença de línguas não? Luciano dos Santos Veloso que para mim é um nome super comum, na Turquia soa muito diferente. Troca feita era hora de rumar para Taksin novamente.

Precisei ir a Taksin pois havia comprado uma camiseta no dia anterior com uma estampa da Galata, a torre, mas havia ficado pequena. Não engordei, pelo contrario, emagreci nesta temporada na Europa mas o "S" (small) da camiseta era realmente muito pequeno mesmo. Logo após pegar a camiseta com o número certo, iniciamos a descida de Taksin em direção à ponte que leva ao Gran Bazar. A descida foi engraçada porque fazia uma vaga idéia da direção mas acabamos ficando perdidos nas vielas de Istambul, o que pra mim é um privilégio. Após algumas ruas erradas e perguntas, encontramos novamente o caminho para o Gran Bazar. Fiz tudo isso tirando um monte de fotos que podem ser conferidas no Facebook (se você ainda não faz parte dos meus amigos, procure por Luck Veloso). Finalmente entramos no grande mercado turco que tem um cheiro muito peculiar, uma mistura de temperos vendidos nas milhares de barracas e lojas, perfumes diversos, gente de várias culturas buscando iguarias, todos ali, naquelas pequenas ruas com luzes incríveis e dezenas de idiomas misturados, com flashes de máquinas fotográficas a cada dois minutos e uma vibração positiva que faz a gente se arrepiar. Fizemos uma pequena pausa para comer em um restaurante que mesclava a comida turca à romena. Como se sabe na história, ha séculos os romenos tiveram uma grande guerra com os turcos. Hoje em dia (2010) a convivência é aparentemente pacífica. Eu precisava comprar vários souvenirs e pequenos presentes, havia feito como todo e bom descuidado, deixado para a última etapa da viagem.

Comprei para mim um autêntico narguile turco. Não era um dos tops mas para mim já estava valendo, queria muito ter aquilo na minha casa, um narguile turco, principalmente comprado por mim em Istambul. Ficamos ali no meio do burburinho andando sem rumo tentando encontrar pequenas coisas para comprar. Daniel como todo bom técnico comprou vários itens eletrônicos. Me concentrei nos pequenos presentes, chaveiros, cordões, isqueiros, adesivos e as lindas caixas magicas, que são boxs cobertos por espelhos coloridos, que podem conter de tudo, caneta, lápis, isqueiro e uma infinidade de coisas, uma delas especialmente para a minha filha Annaluh. Começou a chover fino em Istambul, justamente como havia acontecido na outra vez em que estive na cidade. Achei isso um bom sinal, queria sentir novamente aquela sensação de chuva no rosto. Finalizamos a sessão no Gran Bazar e rumamos novamente para Galata. Fomos a pé, não queria pegar taxi, embora a subida para a torre seja bastante íngrime. Não me interessava, queria curtir Istambul me enfiando nos becos e vielas e não dentro de um Mercedes Benz com bancos de couro, o que é geralmente usado como taxi por aqui. Tenho isso comigo. Para que conheça alguém, tem que ser sem a maquiagem. Depois que conhecer bastante, adoro ver com a maquiagem, pois sei o que ha por debaixo de tudo aquilo. Assim é com as cidades. Gosto de andar, sentar no chão, entrar no boteco e ouvir as conversas. Depois sim, entro em algum carro bonito que tenha no caminho e consigo apontar que parei aqui, ali, naquele lado sentei e assim vai.

Após uma verdadeira escalada por umas cinco ruas, chegamos finalmente de cara com a imponente Torre Galata novamente. Fiquei ali parado por alguns instantes observando aquela construção tao antiga misturada aos prédios mais recentes. Fiz uma rápida prece, um agradecimento a todos os possíveis santos, todas as energias, todas as coisas boas que tenho certeza, me acompanham. Sorri, estava novamente no meu lugar predileto de Istambul, a Galata e logo em seguida, Taksin. Procurava novamente pelo beco com música e demoramos a encontrar, quando o avistamos finalmente, o beco agora era um verdadeiro corredor de roupas, ou seja, eles utilizavam o corredor como espaço musical no final de semana mas durante a semana, eram várias lojas. Fiquei um pouco frustrado mas decidimos ir a outro bar e depois voltar, quem sabe quando as lojas fechassem o beco voltaria a ser novamente o espaço mágico e cheio de música do dia anterior? Voltamos por Taksin observando os corredores. Não estava interessado nos restaurantes da rua principal. Embora sejam lindos, sempre são muito mais caros e isso estava fora dos planos. Encontramos em uma das ruas de acesso a Taksin um aglomerado de bares, onde sentamos para algumas cervejas e um papo. Uma coisa bonita que felizmente consegui fotografar foi um turco aquecendo uma panela para preparar alimentos com um maçarico. Sob aquelas luzes de Istambul, simples coisas como esta ficam diferentes…
Convenci Daniel a não voltar para o barco tão cedo. Afinal, havia mais técnicos a bordo que poderiam sanar qualquer problema ou necessidade, não faria (tanta) falta. Felizmente ele concordou e ficamos por ali, papeando e em determinado momento, voltamos ao corredor musical para ver se algo havia mudado…. não é que agora, como em um passe de magica o corredor havia voltado a ser novamente bar? Mas já estava um tanto tarde e teríamos que voltar ao navio para o show da noite e depois, eu para a disco, afinal, sou o DJ do navio. Como os planos eram sair novamente, rumamos para o navio. (Ainda não terminei este post, é muita coisa, já conto mais rsrs).
Músicas que ouvi enquanto escrevia este post:
1- Airbag
2 - Paranoid Android
3 - Subterranean Homesick Alien
4 - Exit Music (for a film)
5 - Let Down
6 - Karma Police
7 - Fitter Happier
8 - Electioneering
9 - Climbing Up The Walls
10 - No Surprises (esta ouvi umas cinco vezes…)
11 - Lucky (my song rsrsrss)
12 - The Tourist (sim, o turista que agora quer ser local…)
Ou seja, se percebeu, todo o disco "Ok Computer", a verdadeira obra de arte do Radiohead.
ISTAMBUL - Que paixão é esse lugar...
Reviewed by luckveloso
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