Mykonos e a maldição da cor dentro de uma lavanderia

Pelicano gigante de Mykonos / foto: Luck Veloso
Trabalhar em um navio tem várias coisas positivas porém o ponto mais negativo na minha opinião é o chamado "port maining", que é a separação da tripulação por cores, conforme já citei há alguns posts. Caso você não se lembre ou ainda não tenha lido, falo novamente. Quando embarcamos, recebemos um código de cores. Minha cor é o branco, ou seja, no dia em que for a cor branca, não posso me ausentar do navio. Acabo de constatar que estarei "de cor" nas próximas cinco paradas aqui em Mykonos e isso realmente me deixou triste. A alegação para termos esta divisão é que precisam de um mínimo de tripulação a bordo caso aconteça alguma coisa ao navio. Agora, de boa, o que um mero DJ fará para salvar um navio? Quem sabe o cara que inventou isso era fã do clássico "Last Night a DJ Saved My Life" ou algo parecido…

Hoje me conformei, pois dormi à tarde e acordei uma hora depois de termos chegado a Mykonos, mas na próxima semana vou arquitetar algo para poder sair, sinceramente. Agora estou aqui dentro de uma lavanderia, cuidando das minhas roupas enquanto o paraíso esta ali, bem à frente dos meus olhos, bastando apenas pegar uma lancha para sair do navio e desfrutar. Isso é um pecado! Estar em Mykonos e ao mesmo tempo não estar e, pior ainda, ficar aqui dentro trancado lavando roupa! Mas ok, lavar roupa foi opção minha, quem sabe para poder 'piorar' o sentimento de não poder sair e tomar uma atitude drástica para as próximas semanas, pois ninguém merece isso!

O dia não foi totalmente perdido. Durante a tarde passei umas boas horas com o guitarrista Luiz Carlos, a quem chamo de pai aqui dentro, porque o cara além de ser muito gente boa, é um verdadeiro anjo para mim, já tendo me salvado de várias situações pitorescas, inclusive a perda de meu óculos (uma vez em Rodhes, mergulhei de óculos na praia…rsrs). Ficamos ali ouvindo musica e separando algumas salsas e muito material de todo o mundo que vamos coletando através dos anos. Peguei algumas pastas com ele de músicas russas, turcas, gregas e tudo o mais, inclusive um grupo de salsa formado apenas por japoneses (acredite se quiser), onde a cantora explica o porque de terem formado a banda, já que um dos integrantes era fã de Tito Puente… Eta vida! Uma tarde inteira ouvindo musica e encontro um grupo de salsa japonês. Viva sempre as situações, você sempre aprenderá com elas!

Ontem a noite dei uma leve surtada. Estou um tanto cansado de tocar ritmos latinos e cismei que não tocaria nada da Espanha, pelo menos por uma noite. Pilhado pelo técnico Paul, que duvidou de minha palavra, já que ao primeiro aceno de algum espanhol tenho que tocar a pegajosa "Waka waka", decidi que não tocaria nada disso. Foi uma noite dedicada ao house e ao electro, tocando o que me viesse na idéia. No inicio ninguém dançou, todos sentados me olhando. Tomei dois Mojitos seguidos para aliviar minha timidez e prosseguir na luta. Em determinado momento, um garçon brasileiro (tinha que ser) pulou do balcão para a pista de dança e começou a puxar as pessoas das cadeiras, envitando-lhes a dançar. Perfeito! Era tudo o que eu precisava. O povo caiu na dança e eu fiquei (mais) feliz. Um casal veio perguntar minha nacionalidade e ficou surpreso quando eu disse ser brasileiro. Acharam que eu era grego. Os gregos amam house, mas provei que o Brasil também tem dessas coisas. Adoravam techno e estavam felizes por terem me encontrado ali naquela noite. Sorte deles e minha!

Uma techneira total na pista e eu nem ai, fui realmente egoísta ontem mas até que agradei a alguns. Quando toquei Justice a casa caiu. Um casal veio falar comigo que por favor eu "cambiasse" o ritmo, pois precisavam ouvir salsa. Argumentei falando que no dia seguinte haveria uma festa de carnaval, onde certamente ouviriam tudo de ritmo latino. O casal não se conformou muito mas voltou para a pista de dança, pedindo apenas que eu colocasse algo de 80 e 90. Pediram isso em meio a um remix de "Missing", do Everything But The Girl… Quer mais 90 do que isso? Ok, toquei uma Madonna seguida por Michael Jackson e todos ficaram felizes, depois foi tocar dois hits (Stereolove e When Love Takes Over) e voltar pra a canha, eu tava com o diabo no corpo e ninguém me segurava. Quando me cansei, resolvi atender ao pedido da salsa, la pelas três da manhã, quando havia somente dez pessoas na disco. Ao final, foram todos embora sorrindo, acenando para mim e eu feliz da vida também. Feliz ontem, pois agora lembrei novamente que tô em Mykonos escrevendo isso dentro de uma lavanderia (hahaha), mas a vida é assim, uma hora claro, outra escuro e assim vamos mixando tudo. Até o próximo!

Sons que ouvi durante este post:

"klank", "vruuuuum", "shhhhhhhhhhhhuaaaaaa"
Mykonos e a maldição da cor dentro de uma lavanderia Mykonos e a maldição da cor dentro de uma lavanderia Reviewed by luckveloso on 11:53 Rating: 5

Um comentário

Estela Craveiro disse...

Hahahahahaha... Adorei esse post... Já estava dançando quando caí sentada na lavanderia com vc! Muito bom. bjsssssssssssssss, Estela

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