Escolha sempre a vida real, nao importa qual ela seja!
Corfu, Grecia - Sabado, 4 de setembro de 2010.
Aos 17 anos travei meu primeiro contato com o trabalho relacionado ao mar. Recebi um convite para fazer uma prova. O convite me foi oferecido por um grande amigo de infância, que atualmente creio, trabalha como policial, nao me recordo pois perdemos o contato, infelizmente. A prova consistia em responder algumas questões sobre conhecimentos gerais e sobre matérias como português, historia, ciências e a tao temida matemática. Confesso que nesta ultima, escolhia algumas respostas de olhos fechados, tentando a sorte. Fiz a prova por camaradagem, mais de curtição, porem meu amigo queria ser aprovado. Eu nao fazia tanta questão, nao era meu sonho e sim o dele, eu o estava apoiando e participando da 'festa'. Quando fomos ver o resultado, uma grande surpresa: eu estava dentro, ele nao. Ficou bravo comigo. Eu nao tinha culpa de ter sorte, o que poderia fazer? Juro que nao fiz muito esforço, ao contrario dele, que estudou para isso, segundo me disse.
Entrei para a Marinha do Brasil. O ano era 1990. Ao ser aprovado para a Marinha, fui enviado para longe de casa, entrei para a Escola de Aprendizes de Marinheiro de Recife, nordeste do Brasil. Fui pra la de Onibus, que tristeza, queria ir de navio, mas nao rolou. Nos colocaram em um ônibus, muitos adolescentes assustados, muitas maes ordenando: "nao volte", aconteça o que acontecer, "nao volte". Isso era uma forca, claro, hoje muitos deles devem ser oficiais ganhando soldos gordos e podendo ir para casas de veraneio pagas por sua labuta em favor do Brasil (teoricamente).
Nao gostei da experiência. Naquela época para mim, foi uma mudança muito brusca no meu dia a dia. Eu sempre fui DJ, sempre. Naquele tempo eu organizava festinhas em garagens, colocava o Legiao Urbana para tocar e logo em seguida, escolhia outro tema em algum disco de novela, eram os melhores, pois tinham varias faixas de artistas diversos, a chamada coletânea. As melhores festas sempre aconteciam na casa do Fabio, outro grande amigo que considero como a um irmão e que atualmente também êh policial (nossa, que destino destes caras!), com tantos amigos assim posso dizer que sempre estive a margem da lei (haha, nao pude evitar) .Nao havia mixer, entao eu mesclava as musicas usando dois sons, juntando todas as caixas, o que dava a impressão que saia tudo do mesmo lugar, pura ilusão, mas o que nao é ilusão neste mundo? Para o entretenimento vale de tudo, principalmente quando você tem 17 anos e pensa que comanda a 'pista de dança', mas eu ainda nao sabia que nao comandava nada, muito menos a mim.
Nao quis ficar na Marinha e durante um exercício de rotina, as três e meia da manha (hora em que geralmente éramos acordados para rolar no chão e correr bradando gritos de guerra) pensei que aquele seria o momento da decisão. Esperei amanhecer e fui ate a sala do oficial do dia para comunica-lo, sairia da corporação naquele instante. O sujeito me olhou bem serio e perguntou se era realmente aquilo que eu desejaria fazer. Na minha certeza de adolescente, afirmei sim, claro! Queria voltar para meus discos, para minha musica, para meu aconchego, para o amor quase platônico e mais ainda, para os equipamentos de som, que sempre amei. Houve uma época em que achei nao ter sido pressionado o bastante para que ficasse, o que teria mudado radicalmente o rumo da minha historia de vida, mas hoje, observando a atitude de minha família em relação a isso, vejo que eles foram perfeitos!
Minha amada mae me perguntou apenas se era isso realmente que eu queria, voltar. Ao concordar, ela me disse carinhosamente "vem, estou te esperando". Isso me deu mais coragem ainda para continuar. Meu irmão, que com a morte recente de meu pai meio que tomara o seu lugar, embora eu nao enxergasse isso na época mas hoje vejo o quanto ele foi (e é) importante para minha formação, tratou logo de me apoiar, comprando um equipamento de som completo para que eu recomeçasse, agora de forma mais profissional, minha vida de DJ, saindo das garagens para ir tocar em casas noturnas. Foi um salto pra mim! Cheguei ao Rio de Janeiro novamente com a alma renovada e o coração cheio de vontade de fazer mil coisas, mas a namorada de entao, nao era minha, fiquei a ver navios (perdão o trocadilho). Simplesmente nao podíamos, foi um amor meio que proibido, embora tivéssemos tido um certo contato, mas isso é bom demais quando acontece com um adolescente. Nos prepara para perdas e coisas que nao podemos mudar, apenas aceitar e seguir adiante.
Ao optar por viver a vida real, a que eu sempre quis, me vi condicionado a aceitar as intempéries que os trabalhos sem contrato fixo nos oferecem, ainda mais no meu caso, renegando a Marinha, aos olhos dos seres 'normais', estava jogando fora uma vida de certezas, dinheiro certo na conta e um trabalho vitalício, pago pelos governantes que tanto nos roubam. Seria perfeito mas muito lúdico para mim. Sempre precisei fazer o que gosto, viver com quem amo, andar com quem preciso e ter o que mereço. Sempre. Nao consigo fingir, sou eu, o largado, o espaçoso, o estabanado, o falante, o romântico, o comprometido, o maluco Luck. Minha vida deu muitas voltas, altos, baixos, mas sempre firme e entao agora, o processo se inverteu. Ca estou eu novamente ao mar, mas desta vez por pura opcao, o que muda completamente tudo, acredite. Estou fazendo o que mais amo na vida que é colocar pessoas para dançar com musicas que escolho (e muitas que elas pedem, claro), com um puta diferencial, conhecer lugares que somente me via em sonho.
A diferença nisto tudo é que hoje, ao contrario do passado, sei mais ainda o que desejo, viver intensamente, viver a vida real, nao importando muito o que vai acontecer daqui a pouco. Nao sei se estou errado, sinceramente, nao parei para pensar nisso, porque se pararmos, realmente estacionamos. Estou vivendo. Agora me lembrei daquela musica: "eu bebo sim, estou vivendo, tem gente que nao bebe e esta morrendo"… Nao sei se a letra esta certa mas a filosofia me parece ideal. Hoje estou mais feliz porque sei quem sou, mais do que nunca, faço o que amo e quero e tenho o amor real de uma pessoa que me faz muito feliz. Como sempre tive muita sorte, principalmente com pessoas, me vi presenteado pela vida com tudo o que venho conhecendo e é muito bom saber que, quando eu voltar, terei um sorriso lindo me esperando, uma cara de felicidade daquelas que somente vemos em pessoas que nos amam de verdade. Estou muito feliz neste momento pois sei que ao retornar ao meu canto, terei novamente todo o apoio dos seres que me foram presenteados como parentes nesta vida, uma filha linda, irmaos, mae, padrasto, sobrinhos, primos, cachorros (nao tenho papagaio), gatos e a pessoa que me ajuda a lidar com toda essa loucura desde sempre, minha amada Mari. Ela nao tem tempo para ler isso, portanto nao pode ser considerada uma declaração de amor direta, mas nao deixa de ser um reconhecimento para a vida toda. De Corfu, na Grecia, mando um beijo para ela e para você que agüentou ler isso tudo!
Estive em completo silencio enquanto escrevia este post.
Escolha sempre a vida real, nao importa qual ela seja!
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